Feliz Drama dos Pais!
Faz muito tempo que não escrevo aqui para o meu pool
de pensamentos
aleatórios! Mas estamos próximos do Dia dos Pais (e hoje é dia dos pais na
gringa!), e eu quero rememorar algo que há muito escrevi, mas prossegue
fervilhando em minha mente: o pai na questão familiar.
Muito comumente, a questão do aborto é emoldurada em uma disputa ente duas pessoas, o nascituro e a genitora. Mas, e quanto ao genitor? Por que razão o pai não é posto como parte interessada, a não ser ou como um pensamento posterior ou como um "bode expiatório" dos problemas da interação entre os sexos?
É um fato muito visível, e até o presente momento bastante inegável, que a mulher é quem fisicamente sofre os reveses da gravidez. Nem sendo muito misógino eu seria capaz de negar tal coisa.
Pois bem, o homem é incapaz de sofrer. O homem é incapaz de sofrer os reveses da gravidez. Ele não pode decidir "é, eu quero um barrigão" (e pressão alta, e bexiga reduzida, e resistência abalada &c.).
Alguns apologistas do aborto afirmam que o homem não engravida, portanto a mulher deveria ter o "mesmo direito". Porém, o homem não apenas não engravida - o homem não pode engravidar! O homem é a parte hipossuficiente aqui, ele é privado dessa característica humana. É ser privado da gravidez que faz dele homem.
Obviamente, não estou chamando de homens as mulheres estéreis! Não vou perder muito tempo explicando uma picuinha tão óbvia, já tá meio tarde…
Dito isto, olhemos para a reprodução humana (sem xvídeos!). A reprodução humana é sexuada e dimórfica, ambos os sexos contribuem e devem contribuir a fim de gerar descendência. Focando no evento da fecundação, para todos os efeitos a mulher precisa não do homem, mas de esperma. Não custa lembrar daquele caso da mulher de Illinois que engravidou mediante esperma recolhido em um boquete…
Já o homem inevitavelmente depende da mulher inteira. Tudo bem, pode-se dizer que ele depende do útero da mulher, mas o útero é muito menos destacável do que o esperma, vamos e venhamos. E, feliz ou infelizmente, não temos nenhuma tecnologia decente para aposentar o útero feminino.
Esta disparidade apenas reforça a hipossuficiência masculina na questão da reprodução.
Além disso, há uma clara alienação entre o pai e seu rebento. O pai naturalmente fica afastado, apartado, separado do filho por nove meses, em razão de uma barreira natural de sete camadas. O máximo de contato que o pai tem é encostando no barrigão e sentindo alguns chutinhos, com um claro delay entre ele e a progenitora. De acordo com alguma reportagem obscura, fetos já podem ouvir sons - e portanto música - com cinco meses de gestação. Este é o máximo que o dito papai teria, então, de algum contato para fornecer algum laço de afeto. Perto dos nove meses que a mãe tem, mais todo o tempo de amamentação, a disparidade de contato é enorme.
Não lembro mais onde li sobre, mas tenho quase certeza que era alguma newsletter gringa conservadora, num artigo citando alguma feminista. Mas o adágio era algo como: "A Maternidade é uma realidade biológica, a Paternidade é uma realidade social".
É óbvio que existe um lado social na maternidade e um lado biológico na paternidade (um lado menos óbvio que o DNA, diga-se de passagem). O foco aqui é diferente. Falando de outra maneira, a maternidade tem uma evidência física que nem mesmo o mais cético pode negar, ao passo que a paternidade é indireta.
Ninguém imagina uma mulher grávida de um filho que não seja dela, exceto talvez em alguma região estranha onde ocorram muitos contratos de barriga-de-aluguel. Por outro lado, o homem é presumido pai em razão de seu laço com a mulher grávida - casamento, namoro, última-ficada-na-balada, ou o que seja. Mesmo que hoje em dia os exames de DNA não sejam absurdamente caros, é nesta relação que se costuma deduzir a paternidade.
Como já disse antes, a mulher encara as dores e reveses da maternidade de forma bem física e visceral. Mas ela também encara os prazeres e virtudes da maternidade de forma bem física e visceral. Já ao homem, só resta esperar e ajudar.
A natureza coloca o homem em segundo plano no drama da reprodução. Para o homem desinteressado na paternidade, só se veem vantagens. Porém, para o homem que realmente quer ser um paizão responsável participativo, a natureza não ajuda em nada. Nenhum homem pode sequer "desejar suportar toda a dor" da maternidade, pois esse hipotético desejo não se realizará. Resta a ele procurar uma mulher disposta a tal.
Neste sentido, o que a sociedade tem reservado a este ser privado do contato com sua própria prole desde o nascimento da mesma? Bem, a única coisa que lembro de cabeça é que desde a Constituição de 1988 as mulheres têm o direito constitucional a uns quatro meses de licença, enquanto homens têm garantidos míseros cinco dias em um obscuro apêndice.
Fica meio difícil não imaginar se essa mentalidade de segunda classe imposta ao pai, junto a este drama da separação desde a concepção, não contribua para o mesmo abandono que homens andam praticando, seja pelo afastamento da sociedade, seja pelo abandono paterno, tanto aquele feito voluntariamente quanto aquele involuntário (alienação parental)?
Este é um problema que vou levar um bom tempo para responder e matutar…
Até lá, hum... Feliz Dia dos Pais! Bastante adiantado, do nem sempre tradutor, mas certamente bastardo!
Created: 2019-06-16 dom 22:55